quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Bibliotecas podem ser chatas, livros não

Biblioteca. Regras, silêncio, tédio. Quase uma prisão com estantes no lugar das grades. O lugar que escolhi para trabalhar.

Eu sou formado em Biblioteconomia. Biblio o quê? Sim, existe uma faculdade para quem trabalha em bibliotecas. A maioria dos que escolhem essa faculdade são ou foram os famosos ratos de biblioteca.

Não foi o meu caso. Sempre odiei o ambiente de uma biblioteca e permaneci dentro delas o menor tempo possível. E por que escolhi essa profissão? Porque, apesar de odiar as bibliotecas, eu amo os livros.

Não é segredo nenhum que o investimento com melhor retorno possível, seja para um país, uma cidade ou mesmo uma família, é a educação. Educação essa que nunca é a prioridade dos nossos governantes. Afinal, os resultados demoram a aparecer, e antes disso sempre há novas eleições. Se a situação educacional do nosso país vai de mal a pior, a falta de interesse pela leitura é um dos principais sintomas.

Partindo do básico, toda escola deveria ter uma (boa) biblioteca. Já até existe uma lei que prevê isso, mas o que provavelmente irá acontecer é a criação de uma simples salas de leitura para se adequar à legislação. E mesmo as bibliotecas escolares e públicas já existentes, em sua imensa maioria, não cumprem sua função de formar novos leitores e estimular os já existentes.

Nós, os bibliotecários, temos grande culpa nisso. Nos preocupamos com inúmeras regras, classificações, uma organização perfeita, e esquecemos do primordial: os usuários. Parece que nos sentimos donos dos livros e preparamos a biblioteca para especialistas, nunca para o público em geral.

Para imaginar como o ambiente de uma biblioteca poderia ser muito melhor, é fácil. Pense nas livrarias. Elas têm o mesmo produto para nos apresentar: os livros. A única diferença é que uma visa o lucro e a outra não.

Pois bem, qualquer pessoa é capaz de ficar horas lá dentro das grandes livrarias. Você tem acesso direto aos livros, pode experimentá-los o quanto quiser, tem poltronas confortáveis à disposição, internet e até lanchonetes e cafés. Enquanto isso, às vezes é preciso uma enorme força de vontade para permanecer mais do que alguns minutos dentro da maioria das bibliotecas.

Todos temos culpa nessa história. O governo, por não investir o necessário na educação, e ainda menos em bibliotecas e centros culturais. A população, por não cobrar como devia esses investimentos. Os pais, por não estimularem a leitura dentro de casa. E os profissionais da área, professores, bibliotecários, por também não buscarem novas formas de trabalhar o prazer pela leitura em seus estudantes e usuários. Um ciclo que gira e permite a formação escolar de pessoas sem a mínima compreensão de leitura, algo até mais grave do que o analfabetismo. Afinal, de que adianta saber quais letras estão escritas sem entender o seu real significado?

Os únicos inocentes na história são nossas crianças, nossos jovens alunos. E também as maiores vítimas. Que estão crescendo sem conhecer incríveis histórias, mundos e contos fantásticos, que contém a sabedoria das mentes mais incríveis que já passaram por esse planeta.

Por isso, faço um apelo: você não sabe como salvar o mundo? Não entre em pânico! Apresente a uma criança o maravilhoso mundo da leitura. E faça ela descobrir que o lugar mais chato do mundo contém alguns dos seus maiores tesouros.

por Rafael Ribeiro Rocha
Fonte: Papo de Homem

2 comentários:

Falar você deve. Com você, o lado rosa da força estará.