quarta-feira, 13 de março de 2013

[SUGESTÃO] Trainspotting - Sem Limites

Continuando a ressuscitação do Pink, vamos agora com cinema. Lis me mandou ontem uma informação que Danny Boyle planeja uma sequencia de Trainspotting. Nem precisa dizer o quanto vibrei. Amo o filme, os atores, a trilha, a mão de Danny, a cena da privada, tudo! 



Então aqui segue a sugestão: assista o filme. É uma experiencia incrível. Muita gente odeia. Na minha opinião é porque não entendeu. Desculpe se você faz parte dessa "muita gente". Se puder, veja de novo. Veja com novos olhos.

Pra quem não viu, segue minha opinião.

Dirigido por Danny Boyle, Trainspotting é um filme baseado no livro de Irvine Welsh sobre cinco jovens escoceses viciados em drogas: Renton, Tommy, Spud, Sick Boy e Begbie (que é, também, viciado em brigas).

Logo na primeira cena, já podemos vivenciar o ritmo alucinante que diretor imporá ao filme, com a fuga dos personagens. O discurso que narrado durante esta fuga antecipa e explica a lógica destes personagens e sua fuga para o mundo das drogas. Renton, o protagonista, discursa: 

“Choose Life. Choose a job. Choose a career. Choose a family. Choose a fucking big television, choose washing machines, cars, compact disc players and electrical tin openers. Choose good health, low cholesterol, and dental insurance. Choose fixed interest mortage repayments. Choose a starter home. Choose your friends. Choose leisurewear and matching luggage. Choose a three-piece suite on hire purchase in a range of fucking fabrics. Choose DIY and wondering who the fuck you are on a Sunday morning. Choose sitting on that couch watching mind-numbing, spirit-crushing game shows, stuffing fucking junk food into your mouth. Choose rotting away at the end of it all, pishing your last in a miserable home, nothing more than an embarrassment to the selfish, fucked up brats you spawned to replace yourself. Choose your future. Choose life. But why would I want to do a thing like that? I chose not to choose life: I chose something else. And thereasons? There are no reasons. Who needs reasons when you've got Heroin?”

(Tradução livre: Escolha uma vida. Escolha um emprego. Escolha uma carreira. Escolha uma família. Escolha uma merda de uma televisão grande, escolha máquinas de lavar, carros, CD players e abridores de lata elétricos. Escolha boa saúde, colesterol baixo, e plano dentário. Escolha prestações fixas para pagar. Escolha uma casa para morar. Escolha seus amigos. Escolha roupas de lazer e uma bagagem que combine. Escolha um terno feito do melhor tecido. Escolha se masturbar e pensar quem diabos você é em uma manhã de domingo. Escolha sentar no sofá assistindo programas que nada te acrescentam, game shows, estufar-se comendo um monte de porcarias. Escolha apodrecer no fim de tudo, numa casa miserável, envergonhando os pirralhos egoístas que você gerou para te substituírem. Escolha seu futuro. Escolha sua vida. Mas por que eu iria querer me preocupar em fazer coisas como essas? Eu escolhi não escolher uma vida: eu escolhi outra coisa. E a razão? Não há razões. Quem precisa de motivos quando se tem heroína?)

Ambientado na década de 90 do século XX, Trainspotting reflete a desilusão de sua época, marcada pelo fracasso das ideologias que até então animavam as pessoas a lutarem por algo. Ao longo do filme, percebemos o desespero da juventude da época, marcada por um tempo em que o consumo substituiu afetos, idéias e a vida.

(Confesso que não sei se algo mudou realmente.)

Não é de se estranhar, portanto, que as pessoas que não se adaptam à nova realidade busquem formas de viver diferentes. Os cinco jovens retratados escolheram como forma de protesto a marginalidade proporcionada pela heroína. É apenas através das drogas que eles conseguem passar o tempo, arranjar algum sentido no seu viver. A juventude, que durante muito tempo foi a porta das novas idéias, das revoluções e da rebeldia, é tratada, nesta película, como um corpo alienado que ou se adapta a viver o consumismo como lei sem questionamentos ou escolhe viver de forma marginal pelas drogas, já que agora, contestar o sistema virou sinônimo de não ser ouvida.

Trainspotting tratará deste vazio e da forma como parte da juventude resolve encará-lo, através das drogas e de toda violência que delas decorre. Em outra parte do discurso de Renton, temos a explicação de seu vício. Para fugir dos dilemas sociais, das preocupações de um dia-a-dia vazio e sem sentido algum senão a busca do prazer, a heroína é o caminho mais curto. “As pessoas acham que [usar heroína] tem a ver com desespero, morte, miséria... o que não se pode negar. Mas eles esqueceram que há prazer nisso, caso contrário, não faríamos. Quando se é viciado, só se pensa nisso. E quando não é, é obrigado a pensar num monte de outras coisas. Se não tem grana, não pode fazer nada. Se tem, bebe demais. Se não tem namorada, não transa. Se tem, é um pé no saco. Tem que se preocupar com comidas, contas, com seu time de futebol que nunca vence. Com relações humanas. Todas essas coisas que não interessam quando se é viciado.”

Apenas o formato do filme e a seqüência de marcação por estações mostram a passagem do tempo em Trainspotting, já que no decorrer da história não há mudanças significativas na vida das personagens, a não ser saída e o retorno para um mesmo mundo de violência e drogas. Cabe ressaltar que a violência pode ser vista aqui não só nas cenas de briga, mas nas relações humanas decadentes e no abandono destes jovens, por parte do Estado, da família, da sociedade e no próprio descaso com que uns tratam os outros. Pelas suas criticas à sociedade, por mostrar o sentimento de vazio dos jovens e sua rebeldia diante do falso moralismo e do cotidiano medíocre da classe média ocidental, Trainspotting é uma ótima visão do desespero daqueles jovens dos anos 90 que canalizaram o seu descontentamento para um método de escape que lhes proporcionasse o prazer imediato, sem se importar com a destruição resultante disso.

Veja online: http://www.youtube.com/watch?v=g_O2nxf07aQ

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