domingo, 27 de fevereiro de 2011

Oscar 2011: O Discurso do Rei, a Rede Social e outros...



Vou ser honesta: acho que sou a única desocupada de todas as Pinkers. A não ser o fato de ter que ir pra faculdade toda noite, eu tenho os dias livres. Isto unido a minha paixão pelo cinema, me fez assistir 8 dos 10 filmes indicados ao Oscar 2011 na categoria Melhor Filme. O combinado com as Pinkers, era que tivesse um post de cada filme indicado, mas a premiação será hoje, e apenas 3  filmes foram postados.

Portanto irei fazer um post com os outro 5 filmes que eu vi, porque como dito acima, sou a pessoa mais qualificada a fazer isso.



A Rede Social” veio como um grande blockbuster, sobre a rede social que quase todo mundo tem. É, junto com os outros indicados (exceto Toy Story), recheado de boas atuações. Só que, que ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme de Drama, não me encantou. (Curioso que o Facebook também não me encantou.) Mas o filme tem seus méritos. Apesar de ser um filme um tanto chato para leigos, é ótimo para os geeks. Mark Zuckerberg é arrogante, chato e acha que todos devem unicamente servi-lo. Um Sheldon sem a “fofice”. Ele rouba a idéia dos outros, põe o seu melhor amigo de lado por dinheiro, e acha que é inocente de tudo. É tudo uma questão de poder e grana. A ponto do falido Sean Parker (feito estupendamente por Justin Timberlake), o criador do Napster, prevendo as cifras futuras, entrar na bolada. Sem mencionar spoilers aqui, o fim não é surpreendente, nem legal. É, infelizmente, pouco justo. Mas justiça não vale muita coisa quando se trata de 25 bilhões de dólares.



Continuando, eu trato agora da comédia, que tem tanta chance de ganhar, quanto Harry Potter ser indicado a Melhor Filme: “Minhas mães e meu pai” (The Kids Are All Right). Um filme fofis onde dois meio-irmãos, filhos de suas mães lésbicas, procuram o doador de esperma que os gerou. O filme começa bem caricato, com uma família feliz, um ar pseudo-ambientalista, vinhos e bem resolvidos sexualmente. É com a entrada do doador de esperma Paul (Mark Ruffallo, indicado a ator coadjuvante) que desarranja essa harmonia. Todo casamento é complicado, mas o de Nic e Jules é mais ainda, pondo um cheque a complexidade das escolhas que elas fizeram. Em certa altura do filme, o que se houve são só fuck-yous e hipocrisias, apontando um dedo na cara da normalidade da família moderna americana. O grande trunfo mesmo do filme é o elenco. Annete Bening é o contraponto de Julianne Moore. A força versus a fragilidade. E Mark Ruffallo faz o homem sensível ideal. Um filme leve que te deixa de alma lavada.



Em “127 Horas” não é diferente. James Franco (Homem-Aranha) dá um banho de atuação. James faz Aron Ralston, que decidi fazer um passeio rotineiro em um cânion em Utah, e cai numa vala e fica com o braço preso entre um paredão e uma rocha. É quando o filme começa.

É um filme extremamente simples. E intimista. É ali, depois do acidente, que nós descobrimos que Aron é cheio de si. Não contou pra ninguém onde ia. Não carregava celular nenhum. A única coisa que carregava era uma câmera de vídeo. A única maneira que não o deixou perder a sanidade. E claro que isso ajuda o diretor, Danny Boyle (do fantástico Quem Quer Ser um Milionário), mantendo os diálogos sem interrupção e que tudo seja exposto resumidamente. E nisso nós acompanhamos toda a saturação que Aron sente, ao sentir falta do isotônico que esqueceu no carro, do canivete suíço que deixou em casa. O melhor é que não é um filme de sobrevivência comum. Aron já tem esta consciência de mortalidade, ele não adquire com essa experiência. Quando aparece a pedra no seu caminho, é com inevitável grandiloquência que ele diz que "essa pedra tem me esperado minha vida toda". Dá até pra sentir ali uma ponta de orgulho pelo "feito".



Todo ano há um filme independente indicado, e parece realmente que a Academia escolhe o filme a dedo pra isso. Assim foi com os recentes “Pequena Miss Sunshine”, “Juno” e “Transamérica”, que não deixam de ser ótimos por isso. “Inverno da Alma”, de Debra Granik, entra para essa lista.
Na trama, Ree é uma jovem de 17 anos que cuida dos dois irmãos mais novos e da mãe depressiva. É dela a responsabilidade de manter o controle da casa, já que  aparentemente perdeu sua juventude ao tomar tais responsabilidades para si após o sumiço do pai, que é envolvido com drogas e procurado pela justiça. Quando Ree e a família são avisados de que perderão a casa onde vivem nas montanhas caso o patriarca não se apresente em julgamento, a jovem começa a procurá-lo, em uma caça que tem tudo para dar errado. Os vizinhos e os desconhecidos parecem saber alguma coisa do paradeiro do pai de Ree, mas não estão seguros a dizer onde encontrá-lo.

Para o público, é importante que a protagonista consiga seu objetivo, já que estamos mercadologicamente acostumados com isso no cinema. Aqui, caso Ree não consiga o que almeja ou acabe tendo um final desastroso, não parece não importar tanto. O público chega a sentir mal por isso. Dessa forma, “Inverno da Alma” é um filme de personagem no qual creditamos a ele toda e qualquer possibilidade de desfecho. Por isso, não largamos Ree de vista (nem a diretora deixa que a larguemos), transformando-a no grande trunfo do longa. Jennifer Lawrence está impecável na pele de Ree, dando toda a profundidade de uma jovem que tenta não se transtornar com as adversidades da vida. É dela o filme e a principal razão de assisti-lo, sendo sua indicação às premiações bastante merecida. Lawrence consegue reagir à crueza e à crueldade dos seres humanos que entram em sua vida de uma forma fria, assim como o inverno, mas sem perder o olhar adolescente. O foco da garota em sua busca é admirável, seguindo o instinto de sobrevivência. Em destaque no elenco também está John Hawkes, como o controverso Teardrop. A ele cabe ajudar ou não Ree a sobreviver ao ninho de cobras em que ela se mete.



E para finalizar, o 2º meu favorito, o vencedor do BAFTA de Melhor Filme (e mais outros 6 prêmios), o britânico “O Discurso do Rei”.

Albert Frederick Arthur George (1895-1952), pai da atual rainha da Inglaterra, 
Elizabeth II, era o segundo na linha de sucessão do Rei George V (1865-1936), depois de seu irmão Edward (1894-1972). Por ser o caçula da Casa de Windsor, ninguém esperava que Albert assumisse o trono, o que aconteceu em 1936, quando o irmão, interessado muito mais em sua própria felicidade do que na do império britânico, abdicou. Mas o que faz um monarca quando, em um dos momentos mais dramáticos da história, é incapaz de transmitir suas ordens e dirigir-se ao povo sem gaguejar?

Pelo tema sisudo e roteiro centrado em diálogos, O Discurso do Rei daria um filme classicista, não fosse o uso extremamente competente da linguagem cinematográfica para ajudar a contar as aflições do rei Albert.  Hopper conta com a fotografia, que enquadra seu protagonista (vivido por Colin Firth) sempre nos cantos, em planos frontais, mas que beiram milimetricamente o plongée (de cima para baixo). O desequilíbrio cria uma sensação de desconforto, evidenciando o sentimento de inadequação do monarca. A câmera funciona igualmente bem para o outro lado da moeda, Lionel Logue (Geoffrey Rush), um inadequado de outro tipo - fonoaudiólogo nada ortodoxo que tem a tarefa de ensinar Albert a expressar-se com clareza. O embate de ideias (e educações) é fundamental ao filme e o trabalho de Cohen, que compreende também excelentes sequências de plano e contraplano - que desfrutam do citado desequilíbrio -, participa dele com voz firme.

Alheios a tudo isso e focados em suas próprias tarefas, Colin Firth e Geoffrey Rush executam seus trabalhos de maneira inspirada. O primeiro dá ao rei a inconstância física e dualidade que o papel exige. Na vida íntima, com a esposa e filhas, surge terno e fala com fluidez reservada. Quando precisa desempenhar seu papel como nobre, porém, mantém a dignidade e o porte, mas gagueja de maneira dolorosa de assistir. Fica ainda mais evidente a qualidade do trabalho de Firth quando o vemos durante longas cenas ao lado de Geoffrey Rush. Lionel é um papel menos exigente - e Rush um ator dotado de mais recursos (sua internalização na cena do ensaio da coroação na catedral é brilhante) -, o que poderia enterrar um trabalho menos competente. Se atuar é a arte de reagir, Firth e Rush engajam-se em suas reações como ninguém.

É também um alívio ver, depois de tantos Harry Potter e filmes de Tim Burton, Helena Bonham Carter deixando de lado suas pesonagens estridentes para dedicar-se a uma mulher normal. A atriz interpreta a esposa de Albert com interesse. O elo fraco é mesmo Timothy Spall (o Rabicho de Harry Potter). Ainda que excelente ator (basta vê-lo em Agora ou Nunca), ele dá um peso desnecessário às aparições de Winston Churchill. O  inglês era, sim, uma figura que parecia saída de um desenho, mas Spall se entregou às caras e bocas na oportunidade de interpretá-lo. Ao menos sua participação é breve.

Hooper também é extremamente feliz na criação da atmosfera de ameaça vindoura da Segunda Guerra. O grande antagonista do filme é o microfone - o inimigo a ser tornado aliado -, mas o eloquente Adolf Hitler também faz rápida aparição. A cena em que o Rei Albert o observa discursando, franjinha em desalinho devido ao esforço teatral, é quase cômica. As proverbiais nuvens que prenunciam tempestades também surgem na forma de uma sequência na névoa distante, em que paciente e terapeuta brigam sob uma opressiva luz difusa.

Com o intuito de colher informações para escrever o filme, David Seidler, o octogenário roteirista de O Discurso do Rei, conta que procurou a Rainha Mãe, Elizabeth Bowes-Lyon (a viúva do Rei George VI, morta em 2002), algumas décadas depois dos fatos. "Por favor, não o faça enquanto eu estiver viva. A memória desses eventos ainda é muito dolorosa", ela escreveu de volta. Dolorosa ou não, a história não poderia ter sido contada de maneira mais elegante em O Discurso do Rei..



A Rede Social (The Social Network), EUA, 2010
Direção: David Fincher
Com: Jesse Eisenberg, Armie Hammer, Andrew Garfield, Joseph Mazello, Justin Timberlake.
Indicado a 8 Oscar: (Melhor Filme, Ator, Direção, Edição, Fotografia, Trilha Sonora, Mixagem de Som e Roteiro Adaptado. Ganhou 2 BAFTA e 4 Globo de Ouro. Ganhou 51 prêmios e foi indicado a mais 53 indicações.

Minhas mães e Meu pai ( The Kids Are All Right), EUA, 2010
Direção: Lisa Cholodenko
Com: Annete Benning, Julianne Moore, Mark Rufallo, Mia Wasikowska, Josh Hutcherson.
Indicado a 4 Oscar: Melhor Filme, Atriz, Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante e Roteiro Original. Ganhou 2 Globos de Ouro (Melhor Filme de Comédia ou Musical e Melhor Atriz de Comédia). Indicado a 51 prêmios.

127 Horas (127 Hours), EUA, 2010
Direção: Danny Boyle
Com: James Franco, Treat Williams, Clémence Poésy, Amber Tamblyn.
Indicado a 6 Oscar: Melhor Filme, Ator, Roteiro Adaptado, Trilha Sonora, Canção e Edição. Indicado a 55 prêmios, ganhou 3.

Inverno da Alma (Winter’s Bone), EUA, 2010
Direção: Debra Granik
Com: Jennifer Lawrence, John Hawkes, Garret Dillahunt.
Indicado a 4 Oscar: Melhor Filme, Atriz, Ator Coadjuvante e Roteiro Adaptado. Indicado a 42 prêmios, ganhou 21.

O Discurso do Rei (The King’s Speech), Inglaterra, 2010
Direção: Tom Hooper
Com: Colin Firth, Geoffrey Rush, Helena Bohan-Carter, Derek Jacobi, Paul Trussell, Michael Gambon e Guy Pierce.
Indicado a 12 Oscar: Melhor Filme, Direção, Ator, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante, Roteiro Original, Fotografia, Direção de Arte, Figurino, Edição, Mixagem de Som e Trilha Sonora. Ganhou 5 BAFTA (Melhor Filme, Ator, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante e Roteiro Original) e o Globo de Ouro de Melhor Ator para Colin Firth.  Indicado a 68 prêmios, ganhou 21. 


Resenha por Ligya Machado, fonte: Omelete.com.br

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