quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Áudio Original versus "A melhor dublagem do mundo"


Toda vez que vejo a propaganda de Cowboys & Aliens (DUBLADO) na Globo, eu lembro deste post do Pablo Villaça. Concordo com muita coisa que ele diz, mas nem todas. Vou destacar o que eu mais concordei no post e comentar abaixo. Mas o post original e na íntegra, vocês acham AQUI.
Planeta dos Macacos: A Origem chegou aos cinemas brasileiros com um anúncio preocupante feito pela Fox: o filme seria lançado com mais cópias dubladas do que legendadas em nossas salas. Reparem que estamos falando de um longa com classificação indicativa "12 anos" e que, portanto, esta decisão nada tem a ver com o conceito de torná-lo "acessível" aos espectadores mais jovens. Não, a ideia era atender a um público adulto que rechaça legendas - não por problemas físicos, mas por simples preguiça de ler. (...)  A questão é uma só: preferem a comodidade de assistir a um filme que não os obrigue a praticar o que aprenderam na alfabetização. Afinal, se já fugiram das bibliotecas, por que deveriam ser encurralados por letras nas salas de cinema?
(...) Obviamente que os dublófilos não assumem isto, mas, pessoalmente, jamais encontrei alguém que tivesse o hábito da leitura e reclamasse de legendas. (...)

Ok, o argumento dele é um pouco radical, em certo ponto do texto ele chama os defensores da dublagem de "sem cultura". Mas o que ele falou faz sentido. Vejo pela minha cunhada. Ela não gosta de ler. E nem por isso não tem cultura. Mas o fato é: ela odeia filme legendado. Quando meu irmão (que assim como eu ODEIA qualquer coisa dublada), e eu vamos assistir um filme com ela, seja em DVD ou em cinema, temos que tirar no par ou ímpar qual versão do filme iremos ver. Triste, mas verdade...

O fato é que pessoas sem educação formal têm acesso aos filmes normalmente pela TV aberta - onde 100% das produções são dubladas. Assim, é justo dizer que esta parcela da população já está sendo mais do que atendida - especialmente considerando que praticamente todos os lançamentos em DVD já vêm com a opção da dublagem (e a palavra-chave aqui é "opção"). Considerando que estas são as formas economicamente mais acessíveis de se assistir a filmes de todas as épocas, gêneros e países, é incontestável que a população analfabeta (seja este analfabetismo real ou funcional) não está sendo excluída do acesso à Sétima Arte - e eu, como amante do Cinema, jamais defenderia que isto ocorresse.
Aqui eu concordo TOTALMENTE. Tanto que escrevi um post falando sobre a palavra chave OPÇÃO em meu outro blog. Dei ênfase para a falta de opção que a televisão fechada está dando ao seu cliente. Contratei o serviço da tv a cabo para fugir da falta de variedade e OPÇÃO que a tv aberta dá. Isso inclui o áudio original...

Jamais questionei a competência de nossos dubladores - ao contrário: em várias ocasiões, afirmei que temos, sim, alguns dos melhores profissionais do ramo. (...) Porém, por mais que reconheça o talento destes profissionais, há algo que, por melhor que sejam, eles jamais conseguirão contornar: o fato de que a dublagem, por natureza, distorce, deforma e prejudica a obra de arte original - especialmente tratando-se de longas envolvendo atores de carne-e-osso. (...) Além disso, não se preocupem com os dubladores: o que não falta a eles é trabalho. Séries de tevê, animações (para cinema e televisão) e praticamente todas as produções lançadas em home video contam com suas versões dubladas.

O problema é quando substituem esses dubladores profissionais, que gastam HORAS praticando essa arte por atores globais sem experiência nenhuma... Luciano Huk (que nem ator é), dublou "Enrolados" em 4h...

Faça um teste: ao assistir a um filme dublado que traga parte do áudio original, feche os olhos e preste atenção no som. Percebeu a diferença? Claro que sim. Aliás, você teria percebido mesmo ao manter os olhos abertos, já que a disparidade é gigante.

Isto se deve a uma questão técnica tão importante para o Cinema que a Academia criou uma categoria especial para premiá-la no Oscar: a da mixagem de som (ou Melhor Som).
Cada filme envolve, em sua pós-produção, um trabalho árduo e extremamente detalhista de combinação das diversas trilhas que trazem os vários elementos sonoros da produção: os diálogos, os ruídos, as trilhas incidentais e instrumentais e até mesmo o som ambiente, do silêncio, de cada set. Esta mixagem requer um estudo delicadissimo do nível preciso de cada faixa em cada segundo de projeção - um trabalho que, nas versões dubladas, tem seu equilíbrio arruinado quando os estúdios brasileiros atiram uma destas faixas fora para substituí-la pela versão em português.
Sem mais a acrescentar nesta parte... E na próxima citação, o meu argumento preferido:
Atuar é criar um personagem. Isto envolve um profundo trabalho de composição e estudo envolvendo meses de pesquisas, ensaios, laboratórios e tentativas para que o intérprete descubra não só a psicologia de seu personagem, mas também a maneira com que este se move, gesticula e... fala. Ouçam, por exemplo, o registro rígido, duro, da voz de Meryl Streep em Dúvida e comparem-no à leveza de sua expressão vocal em Mamma Mia! ou ao pedantismo escutado em O Diabo Veste Prada. Tentem dissociar o professor Snape da dicção venenosa, estudada, calculada, empregada por Alan Rickman na série Harry Potter. Percebam como Sean Penn, em Milk, exibe uma afetação milimetricamente estudada em seus diálogos, ocultando-a quando seu personagem quer passar uma imagem mais séria para a mídia e o eleitorado. Assista ao clímax de Coração Satânico e tente ignorar a rouquidão desesperada de Mickey Rourke.
Agora ouça as versões dubladas e perceba a disparidade provocada pela diferença entre os meses dedicados pelos atores originais aos seus personagens e as poucas horas (se muito!) que os dubladores brasileiros tiveram para gravar seus diálogos.
E há alguns dubladores que TENTAM interpretar (tem um que eu simplesmente detesto, é o que geralmente dubla o Jim Carey por exemplo, não sei seu nome, e nem tenho curiosidade de pesquisar).

Claro que para crianças e até idosos, esses argumentos não valem de nada. Meu pai por exemplo, já não consegue ler com tanta rapidez as legendas. Tenho que pausar o video para que ele consiga ler, e noto que ele não gosta disso, pois sabe que ao assistir um filme dessa forma, perde-se toda a diversão. É por isso que bato na mesma tecla quando digo OPÇÃO. Para ele (e para os pequenos), dublado. Para mim e para todos aqueles que preferem o audio original, legendado.

E sinto muito, mas eu me recuso a pagar para ir ao cinema (o que pra mim é o dobro do preço, já que tenho que viajar até Porto Alegre), para assistir um filme dublado.  

Um comentário:

  1. Eu tenho MUITA sorte de na cidade vizinha ter duas empresas diferentes de cinema, um deles sempre colocam filmes legendados, na maioria das vezes nunca é o cinema do Shopping, que é do POVÃO que acha que os Na'Vi eram pura maquiagem.

    A verdade é que o espectador de cinema está ficando BURRO! Não assistem mais os filmes, só os veem, tão pouco se lixando se a dublagem está boa, ou se o 3D da sala está regulado, não exigem nada pois simplesmente não sabem o quê exigir.

    Ótimo post, por sinal ;)

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